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Que tal história?

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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Resistência e aceitações: diferentes formas de opressão.

O presente texto é uma comparação entre o capítulo 6, “Os africanos e os afro-americanos no mundo atlântico: vida e trabalho.”, retirado do livro de John Torthon. “A África e os africanos na formação do mundo atlântico.” e o capítulo 7, “Inquisições, moralidade e sociedade colonial”, retirado do livro Trópico dos pecados: moral, sexualidade e inquisição no Brasil”, de Ronaldo Vainfas.








O texto de Torthon aborda a questão do movimento dos africanos para a América, através do tráfico de escravos, e os efeitos que essa viagem teve sobre sua cultura. Torthon faz uma analise sobre a circunstâncias políticas, demográficas e econômicas levaram os africanos ao Novo Mundo; sobre como esta mão-de-obra escrava e explorada, seus descendentes e sua relevante contribuição cultural foram fundamentais na formação do mundo atlântico. Como esse impacto cultural foi o produto de sua integração nesse novo mundo, onde eles ocuparam posições geográficas importantes nas áreas de maior transformação cultural e como sua natureza dependeu muito das conjunturas sociais em que os escravos viram-se inseridos nas economias do atlântico, em uma situação identificada como não tendo sido de modo algum uniforme.

O autor faz a analise do comércio de escravos e suas consequências, que dependiam da variedade de situações de trabalho a que estariam submetidos, sendo a rota dos escravos uma experiência comum compartilhada por todos eles e o tráfico negreiro constituindo uma peça fundamental para a sua descaracterização cultural.

A rota dos escravos é entendida então como ponto de partida para a formação de grande parte do mundo atlântico e uma experiência partilhada por todos os escravos recém chegados.

Experiência essa marcada pelo fato dos comerciantes de escravos terem interesse em alojar o maior número possível de escravos nos navios, o que contribuiu muito para tornar a viagem extremamente desagradável e representava para muitos uma morte lenta e dolorosa.

E embora as condições físicas pudessem ser frustrantes e perigosas o maior perigo consistia na redução de suprimentos de comida e água e aos perigos da sub-alimentação somavam-se o da desidratação, consequências impossíveis de se evitar em uma travessia transatlântica, que agravava-se com as doenças.

Ele demonstra a impossibilidade de se generalizar sobre o modo de vida dos escravos no mundo atlântico, dado o amplo leque de tarefas que eles desempenhavam. Mas mesmo assim é possível dividir o enfoque em dois extremos: a vida como trabalhadores agrícolas e a existência protegida do escravo doméstico. E embora as condições da vida rural fossem muito diversificadas, ele comprovou-se que a vida nunca foi fácil para esses africanos.

Como praticamente todas as atividades eram perigosas e envolviam a exploração da força de trabalho, o grau em que esses fatores afetaram o processo familiar, a comunidade e a transmissão cultural entre as geração ainda depende de outros elementos do regime de trabalho, já que mesmo em péssimas condições os escravos conseguiam formar comunidades e as circunstâncias que provocavam essas situações eram muito diversas.

Analisando o caso dos escravos domésticos e dos trabalhadores urbanos, Torthon demonstra como esses escravos eram mais afortunados e podiam usufruir de uma vida cultural e social plena, quando comparados com os escravos rurais. E suas condições de vida permitiam que muitos controlassem seu tempo, podendo assim ter contato com outros africanos.

Esses escravos teriam também maior controle sobre seu tempo de laser e trabalho, o que não significa que não eram explorados ou não estivessem sujeitos aos desmandos de seus donos, mas, assim como no caso de escravos-rurais, os maus-tratos e uma vida difícil não os impediam de ter a criar seus filhos e de usufruir de uma vida social e cultural e provavelmente tinham uma taxa de sobrevivência mais alta e mais oportunidades de casamento.

Por fim ele conclui que mesmo com o caráter exploratório da instituição da escravidão ou o trauma da travessia transatlântica e a subseqüente escravização, a condição em si não resultaria em um permanente estado de choque psicológico e mesmo nos sistemas mais brutais, comunidades de escravos se formaram, crianças foram criadas e sua cultura preservada, modificada e transmitida, a condição de escravos não impedindo o desenvolvimento de uma cultura com influencia africana na América.


Já o texto de Ronaldo Vainfas aborda a questão de mesmo com o não estabelecimento da Inquisição no Brasil, essa instituição não deixou de atuar na Colônia desde meados do século XVI, a partir da instalação de diocese baiana, quando eram então os bispos encarregados dos negócios inquisitoriais.

Ele demonstra como apenas com a visitação inquisitorial à Bahia e a Pernambuco entre 1591 e 1595, que se inaugurou efetivamente a atuação mais formalizada do Santo Ofício no Brasil. E entre as suas razões especula as perseguições contra cristãos novo, animo de expandir o catolicismo e a investigação da fé.

Analisando como a maquina inquisitorial pode funcionar na vastidão América portuguesa, apesar das dificuldades ele revela como teriam pouca valia as visitas se não fosse a adesão popular ao apelo das autoridades eclesiásticas. Conivência que resultava da "pedagogia do medo", sendo o pânico inspirado pelo inquisidor, e a ameaça geral que o simples nome do Santo Ofício representava mais um fator que se juntava-se às variadas intimidações cotidianas.

Por fim ele demonstra como apesar de teoricamente as Inquisição estar acima das divisões sociais da Colônia, que perderiam sua validade durante sua atuação ela na verdade espelhava os privilégio daquela sociedade.


Os dois autores abordam em seus textos objetos diferentes, mas que de certa forma demonstram mecanismos de repressão das classes dominantes que atuaram no período colonial, desde a instituição da escravidão, com todos os seus mecanismos que visavam desmontar ao máximo a cultura dos africanos para tentar garantir sua total obediência até o temor que a Inquisição despertava na Colônia desmontando as relações sociais ao mesmo tempo que as espelhava, e as formas como reagiram, ou deixaram de reagir, esses grupos subalternos.

Ao final, no caso dos africanos, fica demonstrado que apesar de todas as opressões eles foram capazes de manter e de transmitir sua cultura, enquanto os colonos europeu se curvaram ou fugiram diante da inquisição.















Bibliografia:

TORTHON, John. “Os africanos e os afro-americanos no mundo atlântico: vida e trabalho”; in: “A África e os africanos na formação do mundo atlântico.

VAINFAS, Ronaldo. “Inquisição, moralidades e sociedade colonial”; in: “Trópico dos pecados: moral, sexualidade e inquisição no Brasil”

2 comentários:

História em Perspectiva disse...

Saudações históricas! Muito legal o seu blog, estou aproveitando das informações e textos...muito obrigado!...

Podemos fazer uma parceria? Pode postar minhas video-aulas no seu blog??? Eu posso divulgar seu blog para a minha lista de seguidores de twitter e facebook...o que acha?

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Thiago disse...

Bom dia André,

Achei muito bom seu blog e os vídeos!
Achei legal a sua ideia de parceria, estou postando seus vídeos agora. Qualquer outro q vc ache interessante é só indicar.

Abraços.