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Que tal história?

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sábado, 5 de julho de 2008

O Feudalismo - parte 3 - Dinâmica

A DINÂMICA.



Mal estava completada sua estruturação, o Feudalismo já começava a apresentar transformações, com o próprio movimento do corpo social desencadeando mutações.
Nascido em fins do séc.IX ou princípios do X, após centenas de anos de gestação, o Feudalismo conheceu seu período de mais intenso crescimento de meados do séc.XI a meados do séc.XIV.
Isso foi possível devido a reorganização da sociedade ocidental em novos moldes de acordo com as condições decorrentes do fracasso do Império Carolíngio e com as profundas transformações que ocorriam há séculos.
A reorganização de suas estruturas provocava movimentos que acabariam por abalar seus próprios fundamentos.
A revitalização da sociedade levou a um triplo crescimento: demográfico, econômico e territorial.





Na época feudal dois importantes fatores de mortalidade foram pouco ativos: epidemias e guerras.
A natalidade, favorecida pela abundância de recursos naturais, suavização do clima, transformação jurídica do escravo e inovações das técnicas agrícolas.
Apesar de ter havido desbravamento e a ocupação de vastos territórios, a densidade populacional quase dobrou de fins do séc.VIII a fins do XIII.Um fator que explica esse crescimento foi a ausência de epidemias entre os séc.X-XII, outro fator foi o tipo de guerra realizada: constante, mas pouco destrutiva, que não envolvia grandes exércitos, apenas pequenos bandos de guerreiros de elite, os cavaleiros.
Na verdade a guerra na época feudal não objetivava a morte do adversário, mas sim sua captura.
Um terceiro elemento foi a abundância de recursos naturais. O recuo demográfico dos séc.III-VIII fizera com que extensas áreas anteriormente cultivadas fossem abandonadas e ocupadas por bosques e florestas.A maior produtividade agrícola devia-se em parte ao cultivo dessas zonas depois de desmatadas, sobre solo virgem de grande fertilidade. Outra consequência do aumento das areas de floresta foi que desde meados do sécVII o clima da Europa Ocidental tornou-se mais seco e temperado que antes, o que favoreceu a produtividade agrícola.
Um outro fator foi a passagem da escravidão para a servidão, que teve influência positiva no incremento populacional. A melhoria do estado jurídico do escravo incentivava a sua reprodução. Ele passava e ter um lote de terra para cultivar, obrigações fixas e não podia ser separado da família.
Algumas Inovações técnicas também beneficiaram a produção agrícola. Três aperfeiçoamentos exerceram ação direta sobre o desenvolvimento agrícola da população: a Charrua, um tipo de arado mais eficiente; novo sistema de atrelar os animais, possibilitando utilizar mais eficientemente sua força motriz; sistema de rodízio de terras, onde ocorria uma alternância de cultivos sobre uma mesma área, impedindo que ele se esgotasse.

O crescimento econômico manifestou-se sobretudo através de três fenômenos: maior produção, progresso do setor urbano e acentuada monetarização.
Foram os excedentes gerados pela agricultura que forneceram matérias primas para a indústria artesanal e permitiram a intensificação do comércio.
O incremento da produção teve como ponto de partida as inovações técnicas e a melhoria climática.
O crescimento populacional era mais intenso e incentivava a procura por novas áreas para a agricultura. Dessa forma a área cultivável da Europa Ocidental estendeu-se bastante. Muitas terras então ocupadas não eram propicias a agricultura, sendo entregues a pecuária. Assim esse setor conheceu um grande avanço.
No setor secundário, a produção, conhecia claros progressos. Desenvolvia-se principalmente a indústria textil e de construção, resultado das necessidades impostas pelo crescimento demográfico.
É importante lembrar que a sociedade permanecia essencialmente agrária. As cidades cresciam basicamente devido a imigração de camponeses, que viam na fuga para as cidades uma forma de escapar à dependência de um senhor.
Se tornaria claro a partir de meados do séc. XII o conjunto de transformações que começava a comprometer o Feudalismo.
A cidade não podia desligar-se do mundo feudal, de onde recebia matérias e reforço populacional. Passaria a se ligar a pessoas ou a outras cidade através de contratos feudo-vassálicos. Não raro submetiam a zona rural vizinha
O progresso urbano era parte do progresso econômico global do Feudalismo. Sem o desenvolvimento econômico do campo não teria sido possível o desenvolvimento das cidades.
O revigoramento do artesanato e do comércio implicava na ativação da economia monetária. O aumento da produção tornou necessário vender o excesso criando oportunidades de compras, o que levou a se recolocar em circulação moedas e metais preciosos.
Essa monetarização, ao mesmo tempo que expressava o vigor do Feudalismo, contribuía para importantes transformações. As obrigações servis puderam passar a ser pagas em moeda. A maior produtividade permitia aos camponeses ficarem com um excedente que podiam vender e obter uma renda monetária. O senhor feudal, desejando comprar produtos orientais precisava de cada vez mais moeda, que passava a receber dos servos ao invés de produtos ou serviços e ele podia assim contratar mão de obra assalariada.
Assim ia se descaracterizando um dos elementos centrais do Feudalismo.

O crescimento territorial foi o resultado lógico da necessidade de exportar os excedentes de população e mercadoria; representou uma tentativa instintiva de expulsar o excesso de vitalidade que poderia sufoca-lo.
Limitado originalmente ao antigo Império Carolíngio, desde meados do séc.XI o feudalismo penetrou na Inglaterra, no Oriente Médio e na Península Ibérica.
Na Inglaterra o Feudalismo foi implantado a partir da conquista pelo duque da Normandia Guilherme, O Conquistador, em 1066. No período pré-normando existia um campesinato dependente, mas somente depois da conquista de 1066 é que as relações de dominação sobre os trabalhadores se generalizaram e senhoralizaram.
Na Síria-Palestina o Feudalismo foi implantado em fins do séc.XI com as cruzadas. Ao contrário da Inglaterra, onde as condições eram favoráveis, no Oriente Médio o contexto era bastante diferente. Jamais o Feudalismo conseguiu lá penetrar em todos os aspecto da vida cotidiana. Com o desaparecimento dos Estados Cruzados em fins do séc.XII, nada restou de testemunho profundo de uma época feudal.
Na Península Ibérica haviam feições próprias. Na sua primeira etapa,a gênese, até princípios do séc.VIII, a situação era análoga a da frança, contudo a conquista muçulmana impediu que os elementos pré-feudais continuassem a se desenvolver, mas esse foram reativados a partir de meados do séc.XI, em função de questões internas e externas à península.
Primeiro, o enfraquecimento do domínio muçulmano e a necessidade de expansão da comunidade cristã Ibérica devido ao crescimento populacional. Segundo, as transformações sofridas pelo Feudalismo de além-Pirineus que levavam monges, peregrinos, marginais e nobres sem terra a procurar a solução de seus problemas na Espanha. Assim o Feudalismo Ibérico não resultou de uma evolução natural como na França, nem de uma transposição repentina como na Inglaterra. Não foi um fenômeno limitado e artificial como no Oriente Médio, nem espontâneo e profundo como na maior parte do ocidente.
O Feudalismo pôde manter sua capacidade de crescimento enquanto houve certo equilíbrio entre os três elementos básicos, capital, natureza e trabalho.
Era, contudo, um equilíbrio precário.
O progresso técnico era pequeno e o aumento da produção ficava restrito à disponibilidade dos fatores natureza e força de trabalho. A dinâmica feudal mostrava os limites do sistema e encaminhava-o para a crise.


Bibliografia:
"O Feudalismo". FRANCO JR, Hilário; Brasiliense; São Paulo; 4º edição.

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