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Que tal história?

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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Sobrevivendo

Esse resumo foi elaborado para a disciplina História do Brasil República I, no segundo semestre de 2010, a partir do primeiro capítulo do livro "Trabalho, lar e botequim", de Sidney Chalhoub.
O texto trata das relações das camadas populares na cidade do Rio de Janeiro no início do século XX, época em que a sociedade carioca passava por profundas transformações, com as reformas urbaniśticas de Pereira Passos e o início de um desenvolvimento capitalista.





Capitulo 1:
Sobrevivendo...

inquietações teóricas e objetivos.

Nesse capitulo o autor aborda as rixas e conflitos envolvendo membros da classe trabalhadora do Rio de Janeiro na primeira década do século XX, diretamente associados aos problemas de reprodução da vida material desses indivíduos. Suas tensões e conflitos, além da importância das rivalidades étnicas e nacionais enquanto expressões das tensões provenientes da concorrência da força de trabalho.
As rivalidades e conflitos raciais e nacionais são apresentados como sendo alguns dos principais elementos limitadores da eficácia do movimentos operário brasileiro na Primeira República e, se verdadeiros refletiriam uma realidade experimentada pela classe trabalhadora em seu conjunto na pratica cotidiana da vida.
Na composição étnica da classe trabalhadora do Distrito Federal predominavam imigrantes, especialmente portugueses, e brasileiros não-brancos e mesmo que houvesse uma certa igualdade de situação de classe eles, esta ficava obscurecida pelo ressentimento mútuo.
A reconstrução do preconceito racial passa tanto por uma serie de imposições propaladas de cima para baixo pelas classes dominantes quanto pelos ajustamentos dos populares às condições concretas da luta pela sobrevivência.
A capital reunia uma população superior às necessidades da indústria e do setor de serviços, e que era engrossada por migrantes e imigrantes, o que obrigava essa camada a se sujeitar a salários baixos, que deterioravam ainda mais suas condições de existência.
A observação de que eram árduas as condições de competição da força de trabalho no mercado capitalista em formação na cidade levanta inúmeros problemas, entre os quais os das rivalidades nacionais e raciais entre os membros da classe trabalhadora, que remete tanto a aspectos inerentes à mentalidade popular – quanto à conjuntura de transição para a ordem capitalista na cidade.

trabalhadores e vadios; imigrantes e libertos: a construção dos mitos e a patologia social.

O mundo do trabalho tornou-se um problema para as elites brasileiras a partir de meados do século XIX, quando a transição do trabalho escravo para o livre colocou as classes dominantes da época diante da necessidade de realizar reajustes em seu universo mental e adequar a sua visão às transformações sócio-econômicas que estavam em andamento.
O processo que culminou no 13 de maio realizou finalmente a separação entre o trabalhador e sua força de trabalho. Mas criou o problema do liberto, ao torne-se trabalhador livre, dispor-se a vender sua capacidade de trabalho, o que gerou a tentativa de propor medidas que obrigassem o individuo ao trabalho.
O próprio conceito de trabalho precisava se despir de seu caráter aviltante e degradador, característico de uma sociedade escravista, o que gerou um esforço mais amplo de construção de uma nova ética do trabalho.
Era consenso ente os deputados de que a Abolição trazia consigo os contornos da desordem. A lei de 31 de Maio ameaçava à ordem, nivelando todas as classes e provocando um deslocamento de profissões e de hábitos de consequências imprevisíveis. A resposta veio em um projeto de repressão à ociosidade.
Havia um consenso de que a ordem estava ameaçada e os libertos eram em geral pensados como indivíduos que estavam despreparados para a vida em sociedade. A escravidão não lhes havia dado nenhuma noção de justiça, de respeito à propriedade, de liberdade e por isso era necessário evitar que os libertos comprometessem a ordem, o que tornava necessário reprimir seus vícios e através da educação e criar neles o habito do trabalho através da repressão.
Os parlamentares se defrontam com o problema de transformar o liberto em trabalhador. Para isso era necessário educar-los, incutir no individuo o amor e o respeito religioso à propriedade e acima de tudo, amar o trabalho em si, independentemente das vantagens materiais que pudessem daí advir. Ai se colocava a questão de como transmitir a noção de que o trabalho é o valor supremo da vida em sociedade; de como pensar no trabalho como algo positivo, nobilitador, em uma sociedade que havia sido escravista durante mais de três séculos?
O que se pensa é incutir no indivíduo o hábito de ser econômico e de viver mais confortavelmente, pois esses hábitos o estimulariam para o trabalho, e nesse contexto a relação patrão-empregado e o paternalismo são os elementos fundamentais.
Outro momento importante no processo de construção dessa ideologia do trabalho é a elaboração do conceito de vadiagem, a afirmação do mito da preguiça inata do trabalhador nacional. Esse conceito se constrói a partir de um simples processo de inversão: todos os predicados associados ao mundo do trabalho são negados quando o objeto de reflexão é a vadiagem.
Procurava-se uma justificativa ideológica para o trabalho, razões que pudessem justificar a sua obrigatoriedade para as classes populares, construção passa por diversas etapas.
A primeira e fundamental é a de que o trabalho é o elemento ordenador da sociedade; o segundo ponto é a relação que se estabelece entre trabalho e moralidade. Era preciso incutir nos cidadãos o hábito de regenerar a sociedade, protegendo-a dos efeitos nocivos trazidos por centenas de milhares de libertos.
Essa retórica mal acoberta o objetivo dos legisladores: a pena para o ocioso devia ser bastante longa pois o que se desejavam não era a punição pura e simples do individuo, mas sim sua reforma moral.
Há, portanto, uma incompatibilidade irredutível entre manutenção da ordem e ociosidade.
Ociosidade que deveria ser combatida, não só porque negando-se ao trabalho o individuo deixava de pagar sua dívida para com a sociedade, mas também porque o ocioso é um pervertido, um viciado que representa uma ameaça à moral e aos bons costumes
Outro aspecto interessante é a relação estabelecida entre ociosidade e pobreza, duas condições elementares para que ficasse caracterizado o delito de vadiagem.
Existia um má ociosidade e uma boa ociosidade. A má ociosidade é aquela característica das classes pobres, e deveria ser reprimida. A boa ociosidade é um atributo dos nobres deputados e seus iguais.
Os parlamentares reconhecem que se deseja reprimir os miseráveis, passam então a utilizar o conceito de “classes perigosas” como sinônimo de “classes pobres”.
Diferente é a inserção do imigrante neste mundo do trabalho em processo de construção ideológica. Ele deveria ser “morigerado, sóbrio e laborioso”, deveria servir de exemplo ao trabalhador nacional e a sua não-adequação a estes parâmetros era vista como uma ameaça à ordem social.
O universo ideológico das classes dominantes brasileiras na agonia do Segundo Reinado, e depois, durante a República Velha, parece estar dividido em dois mundos que se definem por sua oposição um ao outro: de uma lado, há o mundo do trabalho; de outro, o da ociosidade e do crime.
Esse é um discurso ideológico dualista e profundamente maniqueista. Ele coloca no nível mais elevado da hierarquia social os proprietários, seguidos de forma uma tanto distante pelos bons trabalhadores. No nível inferior, nós temos o mundo dos ociosos e finalmente – o mundo do crime.
Assim, cria-se um sistema segundo o qual o indivíduo mais bem situado na hierarquia social é sempre mais dedicado ao trabalho, mais moral e ordeiro do que o individuo que o precede e ao contrario, quanto maior a pobreza do individuo, maior sua repulsa ao trabalho e menor a sua moralidade e seu apego à ordem.
Esse sistema se caracteriza por uma linha contínua que une o mais moral ao menos moral no universo ideológico, e o mais rico ao mais pobre na estrutura social.
A ociosidade e o crime podem ser pensados como elementos constituintes da ordem e, mesmo como elementos fundamentais para a reprodução de um determinado tipo de sociedade.
A cidade do Rio de Janeiro recebeu grande número de estrangeiros nos anos imediatamente anteriores à Abolição, sendo que este contingente de imigrantes veio se estabelecer numa cidade que continha na época um grande número de negros e mulatos que viviam suas primeiras experiências como trabalhadores livres
Em um rápido debate historiográfico, o autor apresenta a perspectiva de Florestan Fernandes que faz caracterização da sociedade escravista como estamental e de castas cuja desagregação não se refletiu numa mudança substancial da posição social do negro.
Os negros e mulatos encontravam-se despreparados para o papel de trabalhadores livres.
O problema principal, apontado pelo autor, e suscitado por essa analise é a noção de que negros e mulatos se encontravam num estado de “anomia” ou “patologia social” no período pós-Abolição.
A primeira objeção apontada por Chalhoub é a visão do liberto como despreparado para o trabalho livre, destituído de família é perigosamente próxima àquela veiculada pela classe dominante.
Outra objeção apontada é que apesar de toda a repressão e violência inerentes à condição de “ser escravo no Brasil”, os negros escravos foram capazes de manter, adaptar ou reconstruir padrões culturais, relações de família e laços de solidariedade e ajuda mútua entre eles.
Novas perspectivas de pesquisa sugerem que se parta de uma conceito de cultura menos rígido, que se abandone a pressuposto de um monolitismo em dado meio sócio-cultural e que se deve deixar de encarar a cultura como uma entidade acabada e de procurar enfatizar o caráter multifacetado, dinâmico e até ambíguo da vida cultural.
O desviante é visto como é um individuo que faz uma leitura diferente de um código sócio-cultural, isto é, ele não está fora de sua cultura, mas faz dela uma leitura divergente daquela dos indivíduos ditos “ajustados”. Não existiriam desviantes em si mesmo, mas apenas uma relação entre atores que acusam outros atores de transgredir limites e valores de uma determinada situação sócio-cultural. O que existe, então são confrontos entre indivíduos ou grupos concretos, entre acusadores e acusados.
O desvio passa então a ser um problema político
A existência de facções dos mais diferentes tipos em qualquer grupo humano implica numa permanente possibilidade de confrontos a partir de tensões e divergências entre tais facções.
Ao juntar os elos aparentemente perdidos dessas observações de relevância tanto teórica quanto empírica o autor demonstra como o conceito de “política de cotidiano” é bastante útil na medida em que chama a atenção para o fato de que os processos criminais devem ser vistos como a expressão de tensões e conflitos entre grupos ou indivíduos, permitindo assim que nos livremos um pouco do conceito de “comportamento desviante”
O processo histórico por que passou a cidade do Rio de Janeiro na Primeira República apresentou um traço continuísta fundamental em relação aos tempos coloniais e imperiais: a continuação da subordinação social dos brasileiros de cor, ou seja, o negro passou de escravo a trabalhador livre, sem mudar, contudo, sua posição relativa na estrutura social.
Os brasileiros de cor foram os grandes perdedores.
É importante entender de que forma as determinações históricas mais amplas interferem, ao mesmo tempo que se forjam, nas situações micro-históricas concretas e, em longo prazo, apontam os vencedores da luta cotidiana pela sobrevivência e pelas possibilidades de ascensão social entre os trabalhadores.

Companheiros de trabalho, desempregados e gatunos

O papel fundamental desempenhado pelas rivalidades nacionais e raciais nos conflitos em situações de trabalho sugerem uma forte tendência entre os imigrantes da mesma nacionalidade de se mostrarem solidários nessa ocasiões.
Os traços comuns entre as contendas que o autor analise no livro são relativamente fáceis de se identificar. Primeiro, revelam uma situação altamente competitiva no trabalho; segundo, a competição se manifesta principalmente por meio das lutas entre imigrantes e nacionais
Esse traços demonstram a importância dos conflitos nacionais e raciais enquanto expressão das tensões provenientes da luta pela sobrevivência.
Os processos que relatam conflitos entre imigrantes mostram as redes íntimas de solidariedade e ajuda mútua que estes imigrantes teciam entre si. Ao mesmo tempo revelam que a situação de penúria que reforçava estas redes de solidariedade entre patrícios impunha também certos limites a essas práticas de ajuda mútua, pois a necessidade de competir pela obtenção dos meios de sobrevivência obscurecia algumas vezes os laços de solidariedade nacional.
A um pequenos número de casos de brigas entre brasileiros em situação de trabalho, item que parece confirmar o argumento e que as rivalidades nacionais e raciais eram a principal expressão dos conflitos que envolviam a luta pela reprodução da vida material.
A característica essencial destas tensões e rixas associadas aos problemas de reprodução da vida material de nossos personagens era o fato de que elas se exprimiam principalmente através de conflitos entre imigrantes e brasileiros pobres, especialmente os de cor. Estes conflitos dão-se num momento preciso da história da cidade, num momento de transição para a ordem capitalista. Situação altamente competitiva para os membros da classe trabalhadora, pois o mercado de trabalho assalariado em formação na cidade não tem condições e absorver esta mão-de-obra abundante.
Mas entre os membros da classe trabalhadora, que sofreu como um todo os resultados concretos dessa transição para a ordem capitalista e a ideologia do progresso que a acompanhava, houve vencedores e perdedores. Mas a competição pela sobrevivência e pela ascensão social entre os populares tendia a colocar em campos opostos de luta imigrantes e brasileiros, especialmente os de cor e parece resultado da contradições senhor-patrão branco versus escravo-empregado negro, e colonizador-explorador português versus colonizado-explorado brasileiro.
Deste confronto, reativado no período pós-abolição através da chegada maciça de imigrantes resultou a recriação ou a continuação em um novo contexto da subordinação social do negro brasileiro.
Primeiramente a predisposição por parte das classes dominantes em pensar o negro como uma mau trabalhador e em reconhecer no imigrante um agente capaz de acelerar a transição para a ordem capitalista significava que os indivíduos tendiam a exercer práticas discriminatórias contra os brasileiros de cor quando da contratação de seus empregados. Promover o “progresso” significava “branquear” a população nacional, suporte básico a idéia da superioridade da raça branca

Patrão e empregado.

A imagem da relação patrão-empregado geralmente veiculada pelas classes dominantes na República Velha era de que esta se assemelhava em muitos aspectos à relação entre pais e filhos. O patrão era o “juiz domestico” que deveria guiar e aconselhar o trabalhador, que deveria em troca realizar suas tarefas com dedicação e respeitar seu patrão.
O autor aponta a questão de até que ponto esse modelo é compatível com relações de produção do tipo capitalista.
Há diferenças no conteúdo do paternalismo na relação patrão-empregado dependendo do tipo de atividade econômica na qual se realiza essa relação
Os casos relatados sugerem, portanto, que nos pequenos empreendimentos agrícolas nas freguesias rurais da cidade havia a possibilidade de uma relação bastante estreita entre patrão e empregado, o que diminuía de certa forma a distância social entre eles e era semelhante à descrita nos casos rurais.
Tanto nos pequenos empreendimentos rurais quanto nos urbanos, a atitude paternalista dos patrões tem o claro sentido de possibilitar o aumento da exploração da força de trabalho.
Nos pequenos estabelecimentos comerciais o empregado se sentia quase como um sócio de seu patrão, identificava-se inteiramente com os interesses dele e essa identificação aumentava ainda mais quando ambos eram imigrantes
Um outro indicador de que o teor paternalista da relação patrão-empregado funcionava como eficiente mitigador de conflitos é o pequeno número de casos de brigas entre patrão e empregado.
Parece existir uma relação direta entre maior grau e hierarquização das posições no trabalho e a ocorrência de conflitos durante o serviço, pelo menos em empreendimentos econômicos de pequeno ou médio porte. A maior hierarquização aumenta a distância entre os patrões e os empregados mais subalternos, criando uma camada intermediária de funcionários privilegiados que não é bem vista pelos funcionários inferiores.
As evidencias indicam que o aumento das mediações da hierarquia de comando enfraquece de certa forma a eficácia da dominação paternalista, acirrando-se então os conflitos que representam,por via de regra, os interesses do patrão.


senhorio e inquilino

Para sobreviver, os nossos personagens não precisam apenas de uma atividade que lhes garanta um rendimento, precisam também de um teto, o que era um problema sério no início do século XX
A organização do espaço urbano numa sociedade capitalista ou em transição para o capitalismo seria um mecanismo de controle social e econômico, utilizado pela burguesia, visando principalmente organizar e disciplinar a força de trabalho. O desenvolvimento do capitalismo traz assim o surgimento das grande metrópoles modernas
O crescimento da população nas três ultimas décadas do século XIX provoca o agravamento do problema da moradia.
Dentro do contexto das transformações econômicas que estariam ocorrendo no país havia um processo de acumulação e concentração de capitais por parte de uma burguesia emergente que impigia em proveito próprio diversas transformações urbanas que mudavam pouco a pouco o panorama da cidade
A burguesia comercial tradicional, que empregava capital e crédito na exportação de produtos agrícolas e na importação de manufaturas, cedia terreno e uma nova burguesia comercial, que voltava seus interesses para os setores dos transportes, serviços em geral e indústria nascente.
A valorização do espaço urbano ia abrindo caminho para a especulação imobiliária, o que incidiu diretamente sobre habitações populares.
Há a hipótese de que a segregação habitacional imposta pelas reformas urbanas do período representa uma projeção de estruturação de classes característico de uma sociedade em fase de transição para uma economia de moldes capitalistas
O setor industrial que foi realmente beneficiado pelas transformações foi o da construção civil
As transformações urbanas de 1902 a 1906 opuseram dois grupos distintos. De um lado a pequena burguesia ocupada até então com a especulação imobiliária, a exploração das casas de cômodos e dos cortiços e o pequeno comércio varejista. De outro a a burguesia comercial.
No confronto entre grande burguesia industrial e pequena burguesia exploradora das habitações coletivas e do comércio os maiores perdedores foram os membros da classe trabalhadora.
Brigas entre senhorio e inquilinos mostram bem a gravidade da questão da habitação e as picaretas ajudaram a desorganizar a vida de muitas pessoas e agravaram ainda mais as já precárias condições de sobrevivência das classes populares.
Porem renovando tradições antigas, reforçando e construindo novos laços de solidariedade e ajuda mútua, os populares realizaram ajustes em seu modo de vida que lhes permitiram sobreviver à ânsia demolidora da grande burguesia indusatrial


Conclusão - ambiguidades, paradoxos na experiência de vida da classe trabalhadora; o caso dos estivadores

O texto procura compreender como a classe trabalhadora vivencia a dominação de classe e o controle social numa sociedade capitalistas, a complexidade dos mecanismos de controle social e o problema de tentar explicar a eficácia e os limites do exercício deste controle a partir da reconstrução das condições de vida e da visão de mundo da classe trabalhadora em questão.
O controle social no mundo capitalista abrangia a totalidade das relações sociais e em todas as esferas da vida se tem explicação de um mesmo tipo de controle, que se expressa de diversas formas
Não basta então perceber uma relação de dominação, é necessário pensar também nos elementos da ideologia popular que facilitam a reprodução destas relações sociais
As divisões nacionais e raciais foram aspectos que obstaculizaram um processo de tomada de consciência destes populares a serviu como elemento de facilitação do controle social
A característica mais particular do processo é que no Rio de Janeiro havia processo de fixação de valores que iriam justificar e reforçar a transição para a ordem burguesa no país.
As condições árduas da luta pela sobrevivência deveriam incutir nos membros da classe trabalhadora a idéia de que tinham que competir uns com os outros no intuito de garantir a reprodução material de sua existência.
De uma lado o mundo do trabalho era em geral conflituoso, onde os indivíduos competiam com o intuito de garantir um meio de sobrevivência, mas por outro lado, a necessidade de sobreviver se traduz na construção de redes de solidariedade e ajuda mútua entre familiares, amigos e vizinhos, que visam viabilizar a reprodução da existência de todos.
A realidade do controle social, do ponto de vista da classe trabalhadora era ambíguo e paradoxal
analisando a classe trabalhadora em movimento a idéia mais exata de quanto as ações e atitudes do dia-a-dia criaram um padrão ideológico que contem em si os limites necessários da consciência de classe desses homens num determinado momento histórico
Viver competitivamente significava também interpretar sucessos e fracassos como resultados principalmente de potencialidades e realizações individuais, diluindo a consciência que esses homens necessitavam ter do fato de que pertenciam a uma mesma classe social, o que tornava a necessidade de criar organizações fortes para reivindicar direitos de classe uma experiência difícil e contraditória para os estivadores e alguns conflitos individuais entre trabalhadores se explicam a partir de concepções diferentes que estes homens tiveram da relação patrão-empregado



Bibliografia.
Sidney Chalhoub. "Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro na belle époque"

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