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Que tal história?

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sábado, 5 de julho de 2008

O Feudalismo - parte 2 - Estrutura

A ESTRUTURA



Em fins do séc.X as estruturas feudais estavam montadas, com os elementos derivados de seu sistema de formação reunidos de forma indissolúvel e compacta.
Economicamente o feudalismo estava centrado no setor primário(agricultura), hegemônico em relação ao setor secundário(indústria), e ao terciário(comércio). Era uma sociedade claramente agrária por envolver a maioria da população nessa atividade e por quase todos viverem dela. Isso não significando que outras atividades econômicas não fossem praticadas e não tivessem peso. Além de artesãos ambulantes cada grande domínio senhorial tinha sua própria produção artesanal com as matérias primas quase sempre produzidas no próprio local. Desse forma cada grande domínio procurava produzir tudo que fosse preciso na vida cotidiana.
O comércio mantinha ainda um certo porte, embora irregular e de intensidade variável. Certas mercadorias imprescindíveis(como sal), encontráveis apenas em alguns lugares eram objeto de trocas comerciais. As trocas locais desempenhavam um papel de primeira ordem nessa economia, com os camponeses levando à feira seu pequeno excedente produtivo e podendo comprar algum artesanato urbano. Assim, ainda que timidamente, desde meados do séc.XI a zona rural foi se integrando aos circuitos comerciais.



O elemento central da economia feudal era o tipo de mão-de-obra empregada. As transformações passadas pelos escravos e o trabalhador livre na antiguidade que deram origem ao colonus romano, antepassado direto do servo feudal. Da mesma forma o latifúndio romano deu origem a típica unidade de produção feudal, o senhorio. Com a profunda e total ligação servo-senhorio chegamos ao mais excencial componente econômico do feudalismo.
Os senhorios estavam divididos em três partes, todas trabalhadas pelos servos. A reserva senhorial, cultivada alguns dias por semana pelo servo em função da corvéia; os lotes camponeses onde cada família cultivava seu lote tirando dele sua subsistência e pagando uma taxa fixa ao senhor, o censo; a terceira parte eram as terras comunais, utilizadas tanto pelo senhor quanto pelo servo. Utilizada como pastagem, para coleta de frutos, extração de madeira. Essa relação tinha uma forte conotação religiosa e fazia o senhor ser visto como um patrono, propiciador de fertilidade.

Socialmente o feudalismo estava dividido em uma sociedade de ordens, estratificada em grupos; “uns rezam, outros combatem e outros trabalham”. Essa ideologia de três ordens funcionava como arma para a elite manter seus interesses.
A ordem terrestre baseia-se na ordem celeste, imutável. A humanidade devendo ser uma e trina. Não se negava a desigualdade, justificada pela reciprocidade, troca equilibrada de serviços. Uns rezando para afastar as forças do mal, outros lutando para proteger a sociedade dos infiéis, outros produzindo para o sustento de todos.
Nessa sociedade os clérigos desempenhavam um papel central por deterem o monopólio do sagrado. Só através deles os homens se aproximavam de Deus. Exerciam profundo controle sobre a conduta dos homens. As esmolas e doações recebidas pela igreja faziam do clero um grupo possuidor de extensos domínios fundiários e portanto poder político. Estavam, assim, muito próximos da aristocracia laica.
Os guerreiros, detentores do monopólio sobre a violência tem uma dupla origem. No estrato mais alto os bellatores, indivíduos pertencentes a antigas linhagens. O segundo nível formado por elementos de origem humilde, armados e sustentados por um poderoso senhor. Assim surgiram os cavaleiros.
Acompanhando a tendência da época, os cavaleiros acabavam, nas terras recebidas, por se apossar de poderes políticos e por ter domínio sobre os camponeses. Seu estilo de vida tendia a imitar o da antiga nobreza a quem servia. Os cada vez mais freqüentes casamentos entre os dois níveis da aristocracia laica levavam à fusão entre elas.
Os trabalhadores apresentavam uma grande diversidade de condições, de camponeses até escravos. Pequenas propriedades rurais, os alódios, cultivadas pelo proprietário e sua família desapareceram em grande número a partir do séc.XI. Seus antigos proprietários entraram em algum tipo de relação de dependência ou mantiveram-se livres, mas trabalhando num grande domínio.
Os escravos, ainda numericamente importantes até o séc.VIII, passaram a se fundir sob modalidades diversas, sobretudo como servos, mas jamais desapareceram na época feudal.
O principal tipo de trabalhador no feudalismo eram os servos. Não é fácil acompanhar a passagem da escravidão à servidão. Essa se deu lentamente, com variações regionais acompanhando o caráter cada vez mais agrário da sociedade.
A servidão tinha dupla origem. Os servi casati da época carolíngia, escravos que haviam recebido uma casa e terra para cultivar, de outro lado colonos e demais homens livres submetidos ao poder de grandes proprietários. Os primeiros constituíam uma servidão pessoal, ligados a um senhor a quem pertenciam, os segundos uma servidão real, ligados a um aterra que não podiam abandonar. Ambas as condições transmitidas hereditariamente.

Politicamente houve a fragmentação do poder central, com a fraqueza da própria concepção de estado. Com a decadência do Império Carolíngio os detentores de terra passaram a exercer nos seus senhorios poderes políticos. O mapa político da Europa Ocidental pulverizou-se numa infinidade de pequenos estados.
Em função dessas transformações o rei passou a exercer um duplo e contraditório poder. Continuava a ser o soberano, com uma relação unilateral e de caráter sagrado, por outro lado era um suserano, o que implicava em uma relação bilateral entre ele e seus vassalos, com direitos e obrigações recíprocos. Em termos práticos o rei era um senhor feudal, mandando apenas nos seus senhorios, mas por ser suserano manteve uma fração de seu poder anterior e pode com a decadência do feudalismo assumir novamente seu papel de soberano.
Diante da fraqueza do estado e da necessidade de segurança desenvolviam-se relações pessoais diretas, sem a intermediação do estado. Estreitaram-se assim os laços de sangue, as relações dentro das famílias, linhagens, grupos cuja solidariedade interior podia melhor proteger os indivíduos. Esse forte sentimento grupal existia tanto no seio da aristocracia quanto no do campesina.
Os laços de sangue eram claramente insuficientes para as necessidades sociais; como os laços familiares não bastavam criavam-se laços artificiais. As relações nobre-camponês, baseadas na desigualdade, estabeleciam complexos vínculos econômicos, religiosos e políticos. A relação entre nobres, baseada na igualdade, fundamentava-se no contrato feudo-basáltico.
O contrato feudo- vassálico estava de acordo com dois elemantos importantes da época: os laços familiares e a complementaridade das funções sociais. O vassalo, filho simbólico, precisava de terra e camponeses; o senhor feudal precisava de guerreiros


Bibliografia:
"O Feudalismo". FRANCO JR, Hilário; Brasiliense; São Paulo; 4º edição.

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