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Que tal história?

Que tal história?

sábado, 5 de julho de 2008

A ESCOLA DOS ANNALES

Por volta de meados do séc. XVIII, um certo número de intelectuais, na França, Escócia, Itália, Alemanha e outros países começaram a se preocupar com o denominaram “História das sociedades”. Uma nova história, uma “história que inclua qualquer traço ou vestígio das coisas que o homem fez ou pensou, desde o seu surgimento sobre a terra.”.
Licien Febvre e Marc Bloch foram os lideres do que se pode denominar revolução francesa da história.
A revista dos annales surgiu da vontade de se promover a nova história, diferente da que era produzida até então. Após a primeira guerra mundial Lucien Febvre idealizou uma revista voltada à história econômica, que seria dirigida pelo historiador belga Hennri Pirene. O projeto encontrou diversas dificuldades, sendo abandonado. Em 1928 foi Bloch quem tomou a iniciativa de ressuscitar os planos de uma revista. Novamente foi solicitado que Pirene a dirigisse, mas em virtude de sua recusa Febvre e Bloch tornaram-se editores.





Sendo originalmente chamada de Annales d'histoire econimique et sociale e tendo como modelo os Annales de geografique de Vidal de la Blanche. Tinha como bases três diretrizes: primeiro, a substituição da tradicional narrativa dos acontecimentos por uma história problema; segundo, a história de todas as atividades humanas e não apenas da história política; terceiro, visando complementar as duas primeiras, a colaboração com outras disciplinas, como geografia. economia, antropologia, sociologia, psicologia, lingüística e tantas outras.
A história dos Annales pode ser dividida em três fases, ou gerações. A primeira foi dirigida por Febvre e Bloch e após a morte de Bloch, durante a guerra, apenas por Febvre.
O primeiro número surgiu em 15 de janeiro de 1929. Os historiadores econômicos predominavam nos primeiros tempos.
Pouco a pouco os Annales foram se constituindo no centro de uma escola histórica. Foi entre 1930 e 1940 que Febvre escreve a maioria de seus ataques aos especialistas canhestros e empiristas, manifesto e programa de defesa de um “novo tipo de história” associado aos Annales..
Por volta de 1939 Febvre reconhece a existência de um pequeno grupo de discípulos “um fiel grupo de jovens que adotava o que chamavam de 'espírito dos Annales'”, e que viriam a formar a segundas geração dos Annales. Provavelmente ele pensava em Fernand Braudel, mas existiam outros, Pierre Goubert, Maurice Agulhon e George Duby.
A segunda guerra freou esse movimento. Bloch, com 53 anos, se alistou no exercito e, depois da derrota francesa na resistência, mas acabou sendo preso e morto pelos nazistas. Durante esse período Bloch encontrou tempo para escrever dois pequenos livros: L'éntrange dé faite e "Apologia da história ou a função de historiador".
Enquanto isso Febvre continuava a editar a revista, primeiramente com o nome de ambos, depois apenas com o seu.
Os Annales começaram como uma revista de seita herética, depois da guerra, contudo, a revista transformou-se no órgão oficial de uma igreja ortodoxa. O herdeiro desse poder seria Fernad Braudel.
Durante trinta anos, da morte de Febvre em 1958 até a sua própria em 1985, Braudel não foi apenas o mais importante historiador francês, mas também o mais poderoso. Com a morte de Febvre Braudel foi seu sucessor, tornando-se o diretor efetivo dos Annales.
Braudel decidiu recrutar jovens historiadores como Jacques Le Goff, Emmanuel Le Roy Ladurie e Marc Ferro, com a intenção de renovar os Annales .
Apesar de sua liderança carismática e de sua contribuição o desenvolvimento da Escola dos Annales nos tempos de Braudel, não pode ser explicado apenas em função de suas idéias, interesses e influencia. Os destinos coletivos e as tendências gerais do movimento merecem também ser examinados. Desses movimentos certamente os mais importante foi o nascimento da história quantitativa.
Dois importante estudos aparecem na França entre 1932-34. O primeiro de François Simiand. O segundo de Ernest Labrouse, dois anos mais velho que Braudel, foi extremamente influente na historiografia por mais de 50 anos. Foi com Labrouse que o marxismo penetrou no grupo dos Annales. O mesmo aconteceu com os métodos estatísticos.
O surgimento de uma terceira geração se tornou cada vez mais obvio nos anos que se seguiram à 1968. Em 1969 quando alguns jovens como André Burguiere e Jaques Ravel envolverem-se na administração dos Annales; em 1972, quando Braudel se aposentou da presidência da VI seção, ocupada em seguida por Jacques Le Goff; em 1975, quando a velha VI seção desapareceu.
Mais significativas, contudo, foram as mudanças intelectuais ocorridas nos últimos vinte anos. O problema está em que é mais difícil traçar o perfil da terceira geração que das anteriores. Ninguém neste período dominou o grupo como fizeram Febvre e Braudel.
Essa geração é mais aberta as idéias vindas do exterior, muitos de seus membros viveram um ano ou mais nos Estados Unidos. Por diferentes caminhos tentaram fazer um síntese entre a tradição dos Annales e as tendências intelectuais americanas.
Na geração de Braudel, a história das mentalidades e outra formas de historia cultural não foram inteiramente negligenciadas, contudo situavam-se marginalizadas ao projeto dos Annales. No decorrer dos anos 60 70 uma importante mudança ocorreu. O itinerário intelectual de alguns historiadores transferiu-se da base econômica para a “superestrutura” cultural.
Talvez a mais conhecida critica à escola dos Annales tenha sido sua negligencia com relação à historia política.
Febvre a Braudel podem não ter ignorado a historia política, mas não a tomaram muito a serio. O retorno a política na terceira geração foi uma reação contra Braudel e também contra outras formas de determinismo. Esta associada e redescoberta da importância de agir em oposição a estrutura.
A revolta de Bloch e Febvre contra o domínio dos acontecimentos políticos foi apenas uma de uma serie de rebeliões semelhantes. Seu objetivo principal, a construção de uma nova espécie de história foi compartilhada por muitos pesquisadores durante um longo período.
Assim a Escola dos Annales se tornou uma das correntes históricas mais importantes e influentes do séc XX, abrindo caminho para o dialogo da história com as outras ciências humanas, abrangendo áreas inesperadas do comportamento humano e os grupos sociais negligenciados pelos historiadores tradicionais.







Bibliografia: Burke, Peter; A Escola dos Annales, 1929-1989: A Revolução Francesa da Historiografia; Tradução , Nilo Odalia; São Paulo; Editora Universidade Estadual Paulista; 1991

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